A amiodarona é um agente antiarrítmico que possui aproximadamente 7mg de iodeto por comprimido de 200mg, o que é cerca de 45 VEZES a dose diária de iodo recomendada para homens e mulheres não grávidas (de 150μg ).
A maioria dos doentes tratados com amiodarona mantém‐se em eutireoidismo. No entanto, o fármaco pode, por si, determinar um quadro de verdadeira disfunção tireoidiana. Além de induzir hipotireoidismo em pacientes susceptíveis, o excesso de iodo da amiodarona causa hipertireoidismo em alguns pacientes, um distúrbio conhecido como tireotoxicose tipo 1 induzida por amiodarona.
A amiodarona produz efeitos previsíveis de alterações nos resultados dos exames laboratoriais da tireóide em pessoas eutireóideas. A inibição da conversão periférica e central de T4 em T3 por amiodarona e seu principal metabólito ativo, a desetilamiodarona, leva a reduções nos níveis circulatório e intrapituitário de T3, estimulando assim a liberação de tireotropina (TSH), através da ausência de feedback negativo. O aumento do TSH estimula a liberação tireoidiana de T4, que acumula ainda mais devido à conversão inibida para T3.
O efeito líquido dessas mudanças é um nível de TSH sérico elevado ou no limite superior da faixa normal, altos níveis de T4 total e T4 livre e um nível T3 no limite inferior da faixa normal em paciente eutireoideo. Os níveis elevados de T4, neste contexto, podem ser confundidos com tireotoxicose primária, mas o nível de TSH exclui essa possibilidade.
Similarmente, elevações simultâneas de TSH e T4 livre podem ser confundidos com evidências de adenoma da hipófise secretor de tireotropina ou resistência hormonal da tireoide.