Você sabia que, ao tratar o hipotireoidismo, nós médicos optamos pela reposição apenas do hormônio T4, mesmo sabendo que o T3 também é produzido pela tireoide? Parece estranho, não é? Mas existem boas razões por trás dessa escolha.
Cerca de 80% do T3 em nosso corpo resulta da conversão do T4. Isso significa que, ao administrar T4 como tratamento, geralmente conseguimos atingir os níveis hormonais adequados.
O T4 é uma molécula mais estável, o que simplifica muito o tratamento. Com uma única dose da medicação por dia, conseguimos manter os níveis hormonais equilibrados. Já o T3 exigiria 2-3 doses diárias para alcançar o mesmo efeito.
Além disso, o T4 passa por um processo de conversão em T3 antes de atuar nos receptores hormonais. Isso funciona como um mecanismo adicional de segurança contra o excesso hormonal. O T3, por outro lado, age diretamente no coração, sistema nervoso e metabolismo, sendo potencialmente fatal em excesso.
Outra razão importante é a ausência de um T3 regulamentado e produzido comercialmente no Brasil.
No entanto, é importante ressaltar que aproximadamente 10% dos pacientes podem apresentar sintomas residuais ou falhas na conversão do T4 em T3 por alguma deficiência de enzimas. Para esse grupo, talvez tenhamos futuramente medicamentos baseados também na reposição de T3.
Portanto, é fundamental que os pacientes sigam as orientações médicas e não experimentem formulações combinadas de T3+T4 sem uma indicação precisa. Isso pode representar riscos à saúde e comprometer o tratamento.